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Foto do escritorLuciana Santos

"MURIBECA", de Alcione Ferreira e Camilo Soares, estreia no Brasil em 02/03



O documentário MURIBECA, de Alcione Ferreira e Camilo Soares, começa com uma citação do poeta norte-americano T.S. Eliot: “Com tais fragmentos foi que escorei minhas ruínas.” A partir daí, descortina a história de uma comunidade, a dos moradores do Conjunto Habitacional Muribeca (Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco), que está com os dias contados, mas seus moradores melancolicamente resistem. O filme tem produção da Senda, e chega aos cinemas no dia 02 de março, com distribuição da Descoloniza Filmes.


Tanto Ferreira quanto Soares conheceu o Muribeca em momentos distintos, e a memória do local era latente para eles. “Um conjunto habitacional que cada um de nós, por experiências distintas, já havia conhecido em tempos bem diferentes dos que estavam sendo travados quando nos reencontramos. E foi a partir das temáticas sobre cidades que nos movia enquanto produtores de imagem e da iminente destruição de um lugar cuja trajetória era reconhecida por sua vivacidade que nos colocamos para colaborar no sentido de reverberar essa história.”


Para a realização do documentário, contavam com imagens de arquivo de Ozael Lopes, uma espécie de repórter da comunidade, que filmou a comunidade incessantemente por décadas, e cujo material se tornou importante para se olhar a comunidade de dentro. “Ele possui uma memória em vídeo gigantesca do conjunto habitacional e vimos que seria importante aquele olhar de dentro, com câmera na mão e muito zoom de uma Muribeca pujante e cheia de vida, em contraste com o vazio e a frieza do cemitério de prédios que encontramos. Ficamos muito gratos com sua generosidade de compartilhar essa incrível memória.”


MURIBECA conta também com depoimentos colhidos para o filme, com moradores e moradoras, como o poeta Miró e o quadrinista Flavão, que também trabalhou como produtor local no documentário. Quando começaram o filme, os diretores também assistiram a algumas audiências que a comunidade teve com o Ministério Público e conheceram outras personagens que estavam ali, lutando e tentando viver em meio a tanta confusão e insegurança jurídica, além das próprias pessoas que se aproximaram espontaneamente deles interessadas em participar do filme. As entrevistas foram feitas em 2018, e os diretores filmaram a comunidade algumas outras vezes, inclusive logo após o resultado da ordem judicial que autorizou a demolição de todos os blocos do conjunto habitacional.


Nas conversas, foi essencial trabalhar de forma transparente com a comunidade, mostrando nosso recorte e tipo de abordagem, que não era o mesmo de uma reportagem e/ou notícia do jornalismo tradicional. Outro fator importante a destacar é que a comunidade sempre se mostrou solícita e interessada em falar, contar suas histórias e vivências, na maioria das vezes de uma forma intensa, íntima, emocional, com muita disposição, amor e orgulho por pertencer àquela coletividade, além do expressar cuidado e extrema luta por sua permanência.”


Fotógrafos por formação e experiência, Ferreira e Soares apontam que o filme converge suas “afinidades eletivas nas artes visuais, sobretudo em relação às narrativas ligadas às conexões subjetivas de pertencimento no conceito de cidades e os processos de desumanização pelos poderes instituídos em relação às pautas de pertencimento e afeto nas relações de moradia.”


MURIBECA mostra que aqueles prédios eram mais do que apenas uma moradia para a comunidade, era um espaço construído de lutas, afetos, sonhos e memórias que estava sendo cruelmente destruído. E, nesse sentido, o filme se torna uma reconstrução afetiva daquele lugar e da luta dos moradores. “O cinema é um instrumento importante para guardar a memória e a magia de nossos espaços.”


Ao olhar para a história de uma comunidade, MURIBECA aponta para um fenômeno mundial de desconstrução de espaços impulsionado por interesses econômicos à revelia da história e subjetividade dos que ali vivem. O filme mostra que aqueles prédios eram mais do que apenas uma moradia para a comunidade, era um espaço construído de lutas, afetos, sonhos e memórias que estava sendo cruelmente destruído. E, nesse sentido, o filme se torna uma reconstrução afetiva daquele lugar e da luta dos moradores. “O cinema é um instrumento importante para guardar a memória e a magia de nossos espaços.”


Sinopse


Diante da iminente transformação de seus lares em uma verdadeira cidade fantasma, moradores do Conjunto Habitacional Muribeca expressam a morte física de uma comunidade ainda viva na memória e nos sentimentos. O desaparecimento do bairro (em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco) devido a problemas estruturais, à especulação imobiliária e a um longo e turvo imbróglio entre moradores e órgãos responsáveis pela obra é testemunhado a partir de resiliências e resistências, de paisagens afetivas e lembranças que ora buscam abrigo na nostalgia, ora reacendem a chama resoluta da esperança.

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