Publicada em 1950, a ficção cientifica Eu, Robô, de Isaac Asimov, lista as três leis da robótica: um robô não pode ferir um ser humano ou permitir que um ser humano sofra algum mal; os robôs devem obedecer às ordens dos seres humanos, exceto nos casos em que essas ordens entrem em conflito com a primeira lei; um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores. Asimov antecipou um dos grandes medos contemporâneos da humanidade – a possibilidade de que uma inteligência artificial se torne autoconsciente e se volte contra seus criadores. Se na realidade essa ameaça ainda está no campo da ficção científica, nas telas do cinema o futuro já chegou. E ele prova que Asimov tinha a ideia certa sobre como lidar com robôs.
Em M3GAN, a robotista Gemma (Allison Williams) se torna guardiã de sua sobrinha de oito anos Cady (Violet McGraw), que perdeu os pais em um acidente de carro. Com dificuldade para se conectar com Cady, Gemma desenvolve M3GAN, uma boneca realista programada para ser a melhor amiga da menina ao mesmo tempo em que assume a função de educar a criança. M3GAN é projetada para se adaptar às necessidades de Cady, protegê-la e se aperfeiçoar a medida em que convive com a menina, mas acaba desenvolvendo uma personalidade própria e saindo do controle de suas usuárias. A direção é de Gerard Johnstone. O roteiro é de Akela Cooper, baseado em uma história concebida por Cooper e James Wan.
M3GAN é um slasher bem-humorado sem grandes pretensões. Seus principais elementos de horror são fornecidos pela personagem-título, interpretada por Amie Donald e dublada por Jenna Davis. Sua aparência se afasta da humana apenas o suficiente para colocar um pé no vale da estranheza, mas seu tempo de tela – bem como a evolução de seu comportamento – logo desfazem o incômodo de sua imagem. O verdadeiro horror nunca aparece de fato, mas os episódios de fantasmas na máquina devem causar um ligeiro desconforto nos espectadores que vivem cercados por tecnologia.
Dirigido e roteirizado de forma bastante convencional, enquanto slasher, M3GAN é prejudicado por sua classificação indicativa. Este é um filme que se beneficiaria de uma maior incidência de sangue e vísceras na tela. A medida em que M3GAN se torna autoconsciente, ela deixa de olhar pelo bem-estar de Cady e passa a se preocupar com sua própria sobrevivência, numa metáfora acidental sobre as inclinações mais egoístas da humanidade. Mas M3GAN não encerra nenhuma grande reflexão – é entretenimento puro e simples.
Com 1h42min de filme, M3GAN é uma sólida adição ao universo cinematográfico das bonecas malignas. Também oferece sua contribuição ao glorioso subgênero fílmico “o cachorro sempre tem razão”. Um divertido conceito, bem executado e cuja possibilidade para uma sequência é bem-vinda.
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