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Foto do escritorLuciana Santos

"O Peso do Talento" (2022)



De período em período, o cinema passa por uma mudança, e todos aqueles que orbitam esse universo mudam com ele ou desaparecem. Agora vivemos o auge da era dos super-heróis e universos conectados, em que um filme exige conhecimento prévio de outras 20 mídias para ser compreendido pelo espectador. A indústria modificou-se e os grandes astros e estrelas de Hollywood não são mais o que costumavam ser. Nicolas Cage não é mais o que costumava ser. Ele observou essa mudança. Refletiu sobre ela. E fez um filme.


Com direção de Tom Gormican e roteiro de Gormican e Kevin Etten, O Peso do Talento acompanha o ator Nick Cage (Nicolas Cage) que passa por uma crise em sua carreira. Sem conseguir os papeis que mais deseja e cheio de dívidas, Nick Cage concorda em fazer uma aparição na festa de aniversário de um superfã bilionário, Javi Gutierrez (Pedro Pascal). Durante sua visita à Javi, Nick Cage é recrutado por agentes da CIA para investigar seu anfitrião, suspeito de sequestrar a filha de um político local. Nick Cage, porém, não acredita que Javi seja perigoso, já que eles formaram uma amizade baseada no amor compartilhado por filmes.


O Peso do Talento é cinema sobre cinema. É uma contemplação sobre filmes que trabalha em vários níveis, desde o óbvio e superficial, quando Javi e Nick Cage debatem o roteiro de seu próprio filme, que espelha o roteiro de O Peso do Talento, às conversas que Nick tem consigo mesmo, sempre referenciando personagens de sua carreira, culminando em uma reflexão sobre o atual estado do cinema hollywoodiano, cujos maiores lançamentos – tanto em produção, quanto em número de salas de exibição e potencial bilheteria – se apoiam fortemente nos chamados “IPs” (Intellectual Properties, propriedades intelectuais já existentes). Adaptações, reboots, sequências e prelúdios. Não é perdida a ironia de que O Peso do Talento deve desaparecer diante da influência de um dos maiores lançamentos do ano: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.


Além de ser um projeto de paixão sobre cinema, O Peso do Talento é perpassado pela generosidade de seus realizadores. Longe de cair na armadilha do cinema-arte esnobe, o filme tem autoconsciência suficiente para entender a necessidade de oferecer variedade para alcançar diferentes públicos. De Nosferatu a As Aventuras de Paddington 2, do Expressionismo Alemão ao filme de ação contemporâneo, O Peso do Talento quer dialogar com todos os públicos sobre uma só coisa: o amor pela sétima arte.


O filme é guiado pela dinâmica entre Nick Cage e Javi. Enquanto a atuação de Nicolas Cage é bastante aberta e exagerada, afinal ele interpreta uma versão de si que pode provocar leituras diversas (seria aquilo apenas mais um ato? O quando de Nicolas Cage há em Nick Cage?), Pedro Pascal rouba a cena com o entusiasmo de Javi, e é com ele que o espectador pode se identificar. Javi é um homem que tem tudo, mas encontra a verdadeira felicidade ao assistir um filme ao lado de seu ídolo. Enquanto Nick Cage sempre manterá a distância de uma lenda, Javi é um ponto de referência, e o espectador deve ter as mesmas dúvidas de Nick Cage ao ser confrontado com a possibilidade de Javi ser uma ameaça.


Com 1h e 47 minutos de duração, O Peso do Talento propositalmente oferece entretenimento, comédia e drama para todos os públicos. É uma obra que merece a atenção de todos aqueles que, como ela, amam cinema.



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